Passei dos 30, mano

Como achei que o dia pedia alguma reação de minha parte, resolvi rascunhar umas palavrinhas, jogando a real na medida do possível, porque sou dessas.

Não sei como as outras pessoas fazem no próprio dia, mas no Madonna’s Day (que é como eu me refiro ao meu aniversário), eu involuntariamente começo a pensar na vida, na condição humana, se estamos caminhando pr’um bom lugar ou se deveríamos logo ser extintos da face da Terra… E na minha vida.

Depois de um pouco de reflexão, percebi que fazer 30 foi tirar um peso das costas.

Quando tava chegando, o drama de todos era maior do que a minha lista de compras em dia de pagamento de cliente, e a verdade é que a minha reação interna a cada vez que alguém dizia “os 30 tão chegando” era revirar os olhos até completar 3 ciclos em torno do meu cérebro.

Enfim, acabou que ano passado eu 30tei e achei que nada mudaria. E, claro, nada mudou, tirando o que mudou.

Dããããr! O quê? #DilmaFeelings (rainha dos discursos filosóficos confusos)

Poi Zé, teve coisa que mudou. Meu verbo de 2016 pra cá foi “acumular”, pois só o que fiz foi isso.

  1. Acumulei peso.
  2. Acumulei preocupações.
  3. Acumulei cabelo branco.
  4. Acumulei problemas de estresse.
  5. E acumulei peso de novo.

Outra coisa que acumulei foram experiências (e olha que acumulei umas poucas e boas, nos dois sentidos).

Não ia reclamar pra fazer a linha, mas minha natureza reclaminha (rimou) é mais forte. Com as experiências (que é o nome que a gente dá pra “tô ficando velho”), vieram as pegadas do tempo: uma olheira que não some aqui, um pé de galinha acolá, uma marca de expressão que começa a gritar… Deu pra entender: vieram as sofrências que passamos, todas cravadas no meu carón.

E tudo bem, também. Mas há uma coisa que me incomoda: há certo choque de eu fazer 31 ou uma certa condescendência ao dizer “ah, mas você tem cara de 25”.

Apesar de envelhecer ser natural e todos os sortudos passarem por isso, tentamos tapear isso a todo instante. Algum dia, me fizeram acreditar que envelhecer não era tão ruim pros homens, mas talvez este privilégio tenha sido extirpado dos habitantes do Vale dos Homossexuais por causa da pederastia, porque o tanto de viado mentindo a idade não tá escrito.

Era um revés exclusivamente feminino, mas pelo menos nisso conseguimos igualdade. Pelo menos, parcialmente. Não sei se meninos héteros passam por isso.

Rodeei demais só pra dizer: é, tô ficando velho. E, calma, tá tudo bem. Se eu tiver sorte, vou ficar cada mais velho, vou ser cada vez menos age-appropriate (que desgraça!) e meus níveis de chatice vão ser cada vez mais astronômicos (porque só reparam que a gente é chato quando envelhece, apesar de ter sido insuportável a vida inteira).

Por fim, pra resumir minha situação de acúmulos:

Condição atual: acumulando dívidas.

Objetivo de vida: acumular dinheiro.

#pas (tô velho, mas tô por dentro das gírias mudernas marotas, comprovando meu avanço rumo ao fim rs).

Tô veio, mas faço a mudernette das gíria marota

 

Força aí, manas

Qualquer coisa que um homem faz de diferente, especialmente algo atribuído ao feminino, já vira lacrador, ruptor dos paradigmas, etc.
Só que são as mulheres que enfrentam esse mundo duro e dominado pelos homens que, ao sair pra trabalhar, seja para sustentar a família ou a si mesmas, quebram todas os padrões, apesar de todas as adversidades.
Aliás, isso as que ainda entendem pelo que estão passando, porque esse tipo de piadinha é tão “natural” que sequer percebemos a vilania dessas palavras.
As mulheres são diariamente vexadas, mas continuam sacudindo a poeira e sendo agentes da mudança — que beneficia até os homens.
Esse vídeo não foi um soco, foi um tiro de 12.
Espero que o mundo seja menos cruel com as mulheres, pra que essa e as próximas gerações (da minha sobrinha pra frente) possam ter uma vida mais plena e igualitária.
Poder ao povo e às mulheres.
Força aí, manas.

Linguagem de fibra

Gosto de texto duro e fibroso feito carne de terceira: abocanha-se, mas tá cheio daqueles nervões nervosos. Precisa mastigar bastante. Se engolir direto, dá até uma ânsia. Tem que morder devagar e muito. Mastigar de um lado da boca pra não cansar.

Texto água é insípido, e inodoro, e incolor. Não tem nada: não tem conteúdo, não tem estilo. Não tem graça. Não tem alma. Não tem lágrima.

Gosto é de texto com fibra, desses que a gente lê e leva um soco no estômago. Ou é transportado pralgum lugar.

Água com palavras é vazio, não tem sustância, não tem caloria. Não engorda, não nutre. Não fortalece. Não salva.

Texto com fibra: é ele que a gente “vai tá buscando”.

(Inspirado no vídeo do “Trapézio Descendente”, com o Kléber Bambam).

Retrospectiva 2016

Diz uma das minhas tatuagens, o meu ditado chinês favorito, que “a palavra é prata, o silêncio é ouro” (沉默是金 [chén mò shì jīn]). Como prefiro ouro a prata, não tenho escrito nada no blog por falta de importância às minhas palavras. Melhor não falar água ou abobrinha (só acho).

Como 2017 (ou 2016 pt. 2) está batendo na nossa porta, resolvi escrever rapidamente uma reflexão pessoal. Tento não ser piegas (lua em capricórnio não deixa), mas não é de todo mal fazer um balanço do que deu certo e do que não deu. Vou começar pelo negativo, pra terminar em alta.

Tivemos inúmeras perdas pra humanidade em diversos campos, sobretudo, talvez por estarem mais em evidência, no mundo dos artistas. Prince, David Bowie, Alan Rickman.

Uma das mais sentidas por mim foi a partida da autêntica Elke Maravilha, bem no meu aniversário. Só vi a notícia no fim do dia e, devo dizer, um pouco da alegria naquela data tão importante (minha entrada nos 30) foi pro beleléu.

Foi um ano duro.

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Vire uma estrela pra nos guiar, Elkinha

Alguns colegas também perderam entes muito queridos. Um senhor chinês desencarnou e deixou muitas saudades entre seus familiares e admiradores à distância (um abraço à Yasmin Fong). Uma intérprete que também parecia muito da animada também foi (um abraço ao Marcelo Neves e à Manuela de Sampaio pela amiga que se foi).

Em outro campo, a política nacional atingiu os níveis mais tragicômicos dos últimos anos da nossa jovem república tupiniquim. Um bombardeio de acontecimentos lastimáveis, delação premiada, algumas poucas quedas de cacifes (tchau, Cunha), alguns absurdos (que dividiram opiniões)… Fato é: muito se perdeu neste ano, especialmente a classe trabalhadora. Não vou entrar em polêmicas, todos acompanharam o folhetim que se tornou o nosso cenário político, a ação de juízes federais, da polícia, de lobistas, de toda a corja de deputados e senadores salafrários, etc…

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Foi tiro, porrada e bomba o ano inteiro.

Isso sem entrar nos conflitos internacionais e guerras, como os massacres humanitários, a guerra na Síria e na Líbia, a (falta de) anistia à FARC e um sem-fim de desgraças.

E, por falar em desgraça…

A vitória da intolerância com o Brexit e, principalmente, com a eleição de Donald Trump. Considerada piada de mau gosto. Temida até dizer chega. E, finalmente, concretizada. Resta-nos, agora, torcer para que ele seja menos doido do que parece.

O mundo parece torto e pronto para o meteoro, mas há esperança!

Apesar de o mundo estar essa baderna violenta e desigual toda, não dá pra deixar a peteca cair. Mesmo que seja para pensar no que o futuro nos reserva.

Pessoalmente, tive a felicidade de virar tio depois que minha adorada sobrinha Clarissa nasceu dia 13 de abril. Eu fui ao hospital e tudo. Não peguei a parte dramática (parto), já a vi direto na enfermaria. Foi emocionante ver aquela joelhinha ali. Eu a amei desde que soube que existiria e cada dia fico mais feliz pela vida dela. Espero que ela seja um agente de transformação!

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Já tá enorme, mas esta foto é tão linda…

Também no campo de realizações pessoais, tive a experiência incrível do meu intercâmbio. Conheci pessoas incríveis, expandi meus horizontes, aprendi muito francês, fiz amigos com os quais espero manter contato por toda a vida, senti muitas saudades do meu Henrique, dos meus gatos, dos meus (mamis e toda a família Araujo). Foi mágico e inesquecível!

Outra coisa incrível que aconteceu: fui padrinho do meu casal de amigos favorito com minha pessoa favorita no mundo. Claro, eu já fui padrinho das minhas BFFs do coração (não fiquem chateadas, meninas), mas, até então, não tinha sido padrinho COM o Henrique, então é diferente! Obrigado, gente, foi inesquecível!

Ah, claro que não posso deixar de agradecer à minha amada tradução pelas muitas graças alcançadas! Teve viagem, sim, mas também teve uma porrada de projetos e jogos incríveis – inclusive a chance de ver o reconhecimento do público sobre a minha tradução de Shovel Knight! Foi animador e nunca me senti mais orgulhoso do meu trabalho! Fora a penca de coisas que aprendi este ano: foi roteiro, escrita criativa e publicitária, tradução de cinema! Foi uma enxurrada de conhecimento!

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Dizem que os pais não podem ter filhos favoritos… bom, os AAAs que me desculpem, mas este é o meu favorito do ano!

Pra 2017 (AKA 2016 pt. 2), só digo o seguinte: pode vir, meu filho. Desejo que você seja mais gentil com todos. Tenha piedade de nós, pobres humanos. Nossos corações, apesar de nem sempre expostos, existem e merecem ser bem tratados!

Aos meus queridos amigos e familiares, obrigado pela paciência e presença na minha vida, seja ao longo de muitos ou poucos anos, em pessoa ou on-line. Aos meus clientes, obrigado pela parceria, vamos continuar fazendo mágica com as palavras! Aos meus colegas e aos leitores deste blog, tudo de melhor pra nós!

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Aham, também deu pra turistar durante o intercâmbio =)

Que as festas abundem amor e fartura! Que nossas mesas transbordem de alegria e de comida. E que nossos estômagos e vidas estejam sempre repletos! Não só os nossos, mas também a dos nossos invejosos e, sobretudo, daqueles que realmente precisam! Que nossas orações e anseios por um mundo melhor alcancem todas as pessoas que sofrem neste mundo!

Boas festas e feliz 2017!

PS: este texto deveria ser curto, mas acabou ficando maior do que o esperado – como sempre. Aliás, felizmente, tudo na minha vida tem sido maior e mais surpreendente do que o esperado. Obrigado, vida.

Atualização de 27/12/2016: Faleceram no dia 25 e 27/12, respectivamente, George Michael e Carrie Fisher, a Princesa Leia, ambos muito jovens (o primeiro com 53, a segunda com 60 anos). Georginho, suas músicas vão sempre balançar meu esqueleto. Carrie, the Force is strong with you forevah!

Tradução e Marketing 101

Fiquei eras sem escrever por motivos de: não tava rolando, gente, disculpintão!

Agora sim, vamos ao que importa.

Crise.

O mundo tá num “pega pra capar” que não tá escrito, todo dia é um 7 a 1 novo. Tá tudo caro. Eu também vivo nos nossos tempos.

Aí, o que acontece: a gente precisa ganhar dinheiro. E, pra ter dinheiro, precisa trabalhar, porque a vida de ganhador de loteria ou de herdeiro não é pra qualquer um.

Como a gente trabalha? Como consegue trabalho?

Dúvidas existenciais, mas, se você é/quer ser tradutor, precisa respondê-las diariamente.

dinheiro

Este post vai ficar gigantesco, me desculpem. Pra tentar melhorar, vou me inspirar na Suzaninha Vieira “sem paciência pra quem tá começando” e vou vomitar zilhões de informações pra que você se mate pra acompanhar. Pode ler aos poucos ou guardar para digerir depois.

Tá? Então, tá.

Vou presumir umas coisinhas:

  1. Você é um aspirante ou tradutor novato
  2. Você já tem experiência e tá precisando dar aquela sacudida, porque as coisas estão feias
Correndo com o conteúdo no ritmo Ragatanga, como a Suzaninha.
Correndo com o conteúdo no ritmo Ragatanga, como a Suzaninha.

Saber

Primeiramente, #ForaTemer saiba das coisas. Se você quer trabalhar com uma coisa, saiba. É o mínimo.

Se você quer trabalhar como tradutor, saiba. Saiba o idioma estrangeiro, saiba o seu idioma, saiba o que a tradução envolve, os processos, os valores praticados por clientes diretos e agências (pra não cair em cilada, Bino), quais as ferramentas usadas (CAT tools, machine translation, etc.), o que o mercado pede. Saiba!

A forma como você aprendeu talvez seja o de menos no mundo prático, mas geralmente fazer cursos ajuda. E o mercado aprecia certificados. Afinal, em tese, eles deveriam certificar (mágico, né?) que você sabe alguma coisa!

Portanto, se você quer dizer que sabe tradução, você pega o seu certificadinho e mostra. Ninguém é obrigado a estudar tradução, mas se você quer provar que sabe, espera-se que comprove de algum jeito, seja com um certificado profissionalizante, diploma de bacharelado, mestrado ou qualquer outro. Não é regra, mas é um instrumento que o mercado costuma pedir.

certificado

Para o tradutor mais experiente, vale a dica do saber também. Especialize-se. Faça cursos, aprenda novas habilidades e serviços.

Diversifique. Preste um serviço novo. Consultoria, pesquisa terminológica, revisão, legendagem, audiodescrição, voice-over. Você conhece alguém que faça algum dos dois últimos? Tá vendo só? Tô vendo uma oportunidade, hein.

Pesquisar

Segundo: eu não devia nem estar dizendo isso, mas, sério, aprenda a pesquisar. Se você quer ser tradutor, você precisa aprender a pesquisar, queride.

Tradutor novato já devia começar pesquisando quais cursos pode/deve fazer. Se não começou por aí, volte 2 casas. Isso mesmo. Pesquise os cursos e as áreas com que você quer trabalhar, as que estão em alta, as que você acha que consegue.

Pra você não dizer que não ajudei: procure a pós da Estácio, o curso do Daniel Brilhante e a Alumni (este último talvez seja o melhor, mas é caro pra dedéu). Todos excelentes e renomados, pra quem não pode fazer outra faculdade. Se puder, faça. As federais são boas, mas há várias universidades particulares com cursos excelentes. Pesquise.

Pesquise ou volte duas casas!
Pesquise ou volte duas casas!

Se você já é tradutor experiente e quer mais trabalho, mais clientes, melhores remunerações, também precisa pesquisar os seus clientes. Chega de amadorismo. Eu não sou especialista em teoria de administração, mas sei que existe oferta e demanda. Você vende peixe, vende pra quem quer. Com tradução é igual.

Bora pensar:

Digamos que eu seja tradutor de medicina. Ok. Quem pode precisar de tradução para medicina? Ahm… médicos? Pesquisadores? Empresas que vendem produtos médicos? Empresas que vendem máquinas médicas? Empresas que vendem remédios?

Entendeu o que eu fiz? Eu pensei em algo que eu tenho a oferecer (oferta) e em quem pode se beneficiar disso (demanda). O seu dever de casa agora é saber quem pode precisar de você e como você vai chegar nesse famigerado precisado.

 

Vendendo o seu peixe. Ou os churros da D. Florinda.
Vendendo o seu peixe. Ou os churros da D. Florinda.

Atacar

Depois de saber e pesquisar, é hora de partir pro ataque. Mas não vá despreparado para a guerra. Prepare um plano de ataque!

Muna-se de um CV lacrante; afinal, a ideia é atingir o seu público-alvo da forma mais efetiva possível. E aprenda a lidar com ele, porque não dá pra agir de qualquer jeito também.

Aliás, falando em chegar, eu postei sobre o meu método do LinkedIn, mas existem outras inúmeras maneiras. Aqui, voltamos aos passos anteriores. Se você quer atacar, você já sabe quem vai atacar, como vai atacar, quais os requisitos, etc. O melhor de tudo é quando você cria um jeito único que funciona pra você. Quer melhor? Pesquise e saiba mais!

Bibliografia

Marketing

Este aqui é o link do blog da Marta Stelmaszak, que foi minha professora de marketing no primeiro ano como freelancer. Ela também faz a Business School for Translators de tempos em tempos e escreveu um livro baseado nas experiências dela (você acha tudo no link). Eu fiz a primeira turma da BS4T e recomendo. Tem também o blog da Corinne McKay que, além dele, também publicou um livro chamado How to succeed as a freelance translator (tem pra comprar no blog). Eu li e é ótimo.

A Marta Stelmaszak, eu e a Carol Alberoni. Duas divas do marketing tradutório e eu.
Duas divas do marketing tradutório, Marta Stelmaszak e Carol Alberoni, e eu. Posso finalmente riscar “Conhecer a Marta Stelmaszak” da minha lista.

Ferramentas

O canal do CATGuru no YouTube tem boas explicações sobre o uso de CAT tools. O blog Translation Tribulations tem conteúdos mais avançados. Visite também o site do memoQ, onde dá para baixar a versão de testes da ferramenta e assistir vídeos para aprender a usá-la. É minha ferramenta favorita. Além dela, você pode pesquisar sobre o SDL Trados Studio, o Wordfast. Há uma infinidade de ferramentas e conteúdo.

De bônus, convido vocês a ler meu post respondendo a algumas dúvidas de uma aluna do bacharelado de tradução, talvez também seja útil.

Espero que com esse post eu consiga ajudar muita gente, contribuir para um mercado mais consciente e prolífero para todos, e me poupar de várias conversas repetidas.

Até a próxima!

Como virar tradutor de jogos

Salve, meu povo!

Acho que a maior parte das pessoas que me lê sabe que sou localizador de jogos e, por conta disso, a pergunta que mais respondo pra aspirantes a tradutor (semana sim, semana não) é “como faço pra traduzir jogos?” e “me dá umas dicas?”.

Imagino que esse boom seja devido ao fato de que as pessoas que cresceram jogando videogames chegaram ao mercado de trabalho e querem aliar a vida profissional ao hobby. Afinal, todo mundo quer trabalhar com algo legal — e talvez por isso a localização de jogos seja uma das áreas de atuação de tradutores mais cobiçadas nos últimos tempos.

Em vista do número de vezes que tive que responder a essa pergunta, resolvi fazer um post falando sobre isso. No fim das contas, como percebi que responder individual e exaustivamente não vai dar pra sempre, resolvi ser prático e poupar o meu tempo e o de vocês fazendo este post.

Pra isso, faço aqui um pequeno flashback da minha carreira.

Direto do túnel do tempo

Trabalhei alguns anos como tradutor interno. Os assuntos eram todos relacionados aos negócios da empresa, como relatórios de auditoria, contratos e afins. Quando comecei a trabalhar como freelancer, pensei: quero trabalhar em algo que eu realmente goste. A partir deste momento, decidi que foco seria começar a trabalhar como localizador de jogos.

De lá pra cá, sim, virei localizador de jogos e é incrível!

Como quase tudo que está no plano das ideias, é muito menos glamuroso do que gostaria, joga-se muito menos do que alguns sonhariam, mas é um trabalho interessantíssimo, desafiador e, sobretudo, tão profissional e com tantas peculiaridades quanto qualquer outra especialização.

Mas qual é a real da vida como tradutor (localizador) de jogos?

All your base

A real

Planilhas! Verdade: são planilhas, planilhas e mais planilhas. Textos sem contexto, limites de caracteres, tags sem fim, dúvidas pra lá e pra cá com clientes, prazos apertados.

Alguns clientes, já habituados ao processo, enviam inúmeros materiais de referência, mas outros não enviam nada, só um texto desconexo — e que você faça um bom trabalho! Por isso disse que são “dúvidas pra lá e pra cá”, porque você pergunta qual é o contexto de tudo, senão não fica bom.

Por quê? Porque geralmente os jogos são localizados em vários idiomas. Perceba que eu disse localizados, porque indica que são adaptados ao público local, não são necessariamente uma tradução fiel do original, mas uma versão que soe (idealmente) como se tivesse sido escrita em português desde o começo.

Também quero! Como faço?

Pra começo de conversa, se você quer ser alguma coisa, as pessoas certas precisam saber disso! Permita-se ser encontrado e aponte sua vontade de ser localizador de jogos.

Tá abstrato demais? Vou desenhar.

Como eu disse, ser localizador de jogos é uma área de especialização. Se você já é tradutor, fica mais fácil de entender, mas, em suma:

  1. é um trabalho profissional e especializado, não é pra qualquer um
  2. os clientes procuram tradutores experientes
  3. isso não impede que deem uma chance prum novato promissor

Você precisa ser tão desejável pro seu cliente quanto ele é pra você! Pra isso, invista no seu perfil! Já falei mil vezes, mas seu LinkedIn e tudo mais o que você faz tem que indicar o que você quer e/ou faz. Senão ninguém vai saber.

No mais, saiba pra quem você vai trabalhar! Se você for à padaria procurando peixe, não vai encontrar. Se você falar com o cliente errado querendo traduzir jogos, não vai conseguir.

Por isso, tenha muito claro pra quem você quer trabalhar e, a partir daí, aja de forma a atingir esse alvo. Demora, é difícil, você vai surtar, se frustrar… mas uma hora acontece. Se você perseverar e agir.

Quer mesmo localizar jogos?

Então vá à luta, meu filho leitor e minha filha leitora! Saia deste post e faça acontecer!

Vá agora mesmo fazer sua lição de casa, mexer nos seus perfis on-line, procurar cursos, ferramentas, oportunidades (até mesmo as poucas vagas internas) e clientes!

Querer só é poder quando você faz por onde.

Boa sorte!

PS: Quer conhecer meus serviços? Acessa meu site: http://www.thiago.trd.br

A menina do disk-água

Até em São Paulo, onde alguns ainda acreditam que somos frios e distantes, é possível fazer amiguinhos — ou eu tenho sorte. Tô falando da menina do disk-água.

Ela e eu temos história.

Certa vez, pedi o galão Lindoya de sempre e fiquei esperando por horas, até chegar o fim do dia. Ah, verdade, naquele dia, dei uma saidinha antes de fazer o pedido.

Chega o fim do dia e nada de água. Eu ligo pra minha amiga e ela diz:

— Eu enviei o rapaz, mas o porteiro falou que você tinha saído.

Neguei e pedi que me entregasse no outro dia. E que, se o menino da portaria dissesse que eu saí, era mentira dele, porque estava aqui e ele podia pedir pra falar comigo.

Desde então, sempre que ligo, já logo aviso que, se o menino da portaria disser que não estou, não é pra acreditar nele, porque estou devidamente abundado na minha cadeira rotatória.

Nossa relação se dá assim: eu faço o comentário, ela diz “Ah, o da Avanhandava”, ri e diz que vai mandar o menino assim que possível.

Maravilha.

2016-03-10 08.27.22
Meu galão, devidamente lindóyo.

Ontem, liguei lá pra pedir meu galão de costume, não sem avisar que não estaria aqui depois das 17h. Ela disse que tentaria enviar o menino da entrega (com quem também tenho história) antes desse horário.

Não rolou.

Hoje, já liguei:
— Oi, queria pedir um galão de água. Ontem eu pedi pra entregarem até 17h, mas o rapaz* não veio.

— É o da Avanhandava?

Eu assinto. Ela sorri.

— Pode deixar que hoje a gente dá um jeito de chegar antes.

— Muito obrigado. Bom dia!

— Bom dia!

E é assim que se dá a nossa relação: eu falo daqui, ela sorri de lá.

E ainda tem quem ache que em São Paulo só tem gente fria…

 

* quando falo rapaz é porque fico sem-graça de chamar todo mundo a partir de 1 ano de idade de menino ou menina.

A formiga, o feijão queimado e 2 conselhos de Thii(o)zinho

Salve, salve, pessoal, cês tão bonzinhos?

Eu poderia dizer que estou ótimo, mas vim aqui pra compartilhar um draminha de alguém que está enfrentando uma maré relativamente azarada.

Pra quem acompanha minha timelinda, já ficaram sabendo que tá liberado usar fazer a Glória o Remelinha riscou a lente dos meus óculos. E que ele tá com a macaca, jogando meu celular e tudo o que pode no chão.

Isso não seria grandes coisa se tudo não estivesse acontecendo ao mesmo tempo. Como se não bastasse, tem umas ziquinhas rolando. Algumas são totalmente culpa minha, outras fogem à compreensão humana e precisarei de um parapsicólogo pra avaliar.

No 1º caso: o feijão. Comecei a fazer feijão, fui resolver uma coisa no PC, tive que ficar resolvendo-a, fim. Ou melhor, meio fim — deu pra salvar metade, antes de a casa pegar fogo!

No 2º, copio minhas reclamaçõezinhas facebucais: 1. gato que arranha a lente dos óculos; 2. a roda do seu mouse derrete misteriosamente, mesmo estando relativamente frio; 3. o interfone toca com você no chuveiro, o porteiro manda o moço da entrega subir sem esperar, aí você precisa atender esse desconhecido enrolado em duas toalhas.

Eu risquei a lente do óculos do meu pai e joguei o celular dele no chão 3x hoje.

Mas veja como não são as coisas: azar na cozinha/vida, sorte no trabalho.

Óia só: um projetão foi lançado ontem, o Deponia Doomsday (e outro engatilhado =^.^=) e eu, belo e folgado, tava achando que teria folga pra colocar a vida em ordem — resolver pendências pessoais, limpar a casa direito, fazer comida mais vezes, ficar menos horas no computador, escolher o professor de francês antes de começarem as aulas no curso de roteiro da semana que vem, etc.

No mundo ideal, eu tiraria férias depois da maratona de 2 meses de trabalho quase ininterrupto, mas não é bem assim.

Já de papo pro ar segunda, fui encher os pacová da minha sócia-lícia, a Su. Aquela marotagem boa e saudável que acontece entre as pessoas que sabem quanto o outro ganha. E, obviamente, uma reclamaçãozinha de como os dois andam trabalhando em ritmo escravonético e expressão do desejo de reduzir a jornada de trabalho também entraram no papinho.

— Imagina que delícia trabalhar 4 horinhas por dia, Thi. Isso que é vida!

— Acho que sou tão doido que não conseguiria, mas uma folguinha até que não cairia mal.

Diminuir o trabalho, ganhar mais, tudo lindo, mas não tão fácil, na prática. Como diziam as vovózinhas, canja e cautela não fazem mal a ninguém.

Por que digo isso? Vem com o Thii(o) que o Thii(o) explica.

Estamos enfrentando uma crise das brabas. Nacional e internacional.

Tá tudo dominado.

Todo dia tem um novo escândalo político adeus, Cunha, as notícias de cortes em empresas se alastram, os governos conservadores se espalham, as pessoas buscam a fé… Nada de novo debaixo do sol.

O fato é que, em maior ou menor escala, todos estão sofrendo com ela. E não tem ninguém imune, porque quem é que não foi ao mercadinho e encontrou o tomate a R$ 9 que atire a primeira pedra!

Nessas épocas em que o nosso dinheiro vale menos e fica difícil poupar, precisamos tentar apertar os cintos, rebolar até o chão e tirar coelhos da cartola.

Quem me conhece sabe que sempre fui e sempre serei uma formiga (da “A cigarra e a formiga”) e falo pra todo mundo:”guarda, mano. Quem guarda, tem. É sério”.

Eu tive 2 meses de baixa de trabalho (baixa = quase nenhum centavo entrando, mas aluguel, plano de saúde e todo o restante continuaram sendo pagos normalmente, sem ter o nome caindo no Serasa por isso).

Pra evitar que este post seja ainda maior do que já está, só queria deixar a dica: meça seus gastos e reservas financeiras, parça! Mais do que nunca, a crise é o melhor momento pra se esforçar um pouco mais pra fazer bonito, fidelizar um cliente, prestar um serviço que você não prestava, mas vem se capacitando… afinal, roubar banco não é uma opção. E se meter a político é igualmente ruim.

Portanto, ficam aí meus dois conselhos de Thii(o)zinho: guardem, manos e manas. Quem guarda, tem. Diversifiquem, minos e minas. Quem diversifica, a crise espanta. #nãorimoumasfuncionou

De resto, o importante é ter saúde e ser ganhador da loteria trabalho.

4 anos

O tempo passa, o tempo voa. Entra gente, sai gente.
O trabalho e as línguas.
A casa e as comidas.

Altos e baixos.
Baixos e baixos.
Altos e altos.
Os gatos.

Crises financeiras.
De enxaqueca.
De choro.
De riso.
Como rio!

Briguinhas e cósquinhas.
Picuínhas.
Promessas e confissões.
Resoluções.

Meias em cadeiras.
Zueiras.
Planos e viagens.
Sacanagens.

Passado, futuro e presente.
A gente.

4 anos

Oração do dia

Olá, olá, olá, pessoar.

Não sei se é o efeito “ano do macaco de fogo”, mas o Universo foi ótimo comigo em janeiro: teve intensivo de francês e cliente novo, trabalho pra caramba, dias úteis e de folga preenchidos. Uma beleza.

Como a vida precisa dar uma balanceada, tive também muitas ziquinhas do dia a dia, um calor etiopiano,  gente chata e folgada (sabe aquele pessoal que fecha a calçada quando você tá cheio de sacola do mercadinho?).

Mercadinho
Este poderia ser eu, cheio de sacolinha, incauto sobre o cordão humano que haveria na calçada daqui a uma quadra.

Já deu pra pegar o essencial, né?

Por causa disso, hoje fiz esta oraçãozinha, que divido com vocês, pra gente tentar mandar esse povo mané pra lá. Seja por humor ou por crença, transcrevo-a abaixo.

Livrai-me da falta de noção, da inadequação, da falta de simancol e da inconveniência.

Protegei-me dos micos ébrios, das mensagens constrangedoras a pessoas alheias à situação, da folga dos malandrões e da chatice dos carentões.

Dai felicidade àqueles que infernizam a vida com pequenos atos de chateação, malandragem, folga e escrotice em geral, porque gente feliz não enche o saco.

Cobri-me com o manto da serenidade e dotai-me de uma atitude “eu me viro e não encho o saco de ninguém”

É como o ditato espanhol que sempre repito pra mim mesmo: “no creo en las brujas, pero que las hay, las hay”.